terça-feira, 21 de março de 2017

VARIZES



Varizes são veias dilatadas, tortuosas e de calibre aumentado, que podem aparecer em diversas regiões do corpo. O mais comum é ocorrerem nos membros inferiores. Muito mais do que um problema estético, na verdade, elas indicam que algo não vai bem na circulação do sangue venoso pelo organismo.

Em sentido contrário ao da gravidade, as veias das pernas são responsáveis por levar o sangue que circulou pelo corpo de volta para o coração e dali para os pulmões, onde se dá a troca de gás carbônico por oxigênio. Para que possam exercer essa função, dentro delas existem pequenas válvulas que regulam o direcionamento do fluxo sanguíneo. Elas abrem para o sangue subir e fecham para impedir que desça, quando a pessoa fica em pé.

Sob determinadas condições, porém, essas válvulas se desgastam. Como não fecham mais direito, deixam escapar parte do sangue que deveria voltar para o coração. Desta maneira a pressão nas veias das pernas aumenta e elas dilatam e deformam por causa do sangue acumulado dentro delas.
Varizes constituem um problema crônico, que pode surgir em qualquer idade.
Fatores de risco que não podem ser mudados
Não temos como interferir em algumas condições que favorecem o aparecimento de varizes:
1.    Predisposição genética – pessoas com história familiar da doença devem preocupar-se com a prevenção dos problemas circulatórios desse cedo e adotar medidas que ajudem, pelo menos, a retardar o processo;
2.    Idade – à medida que as pessoas envelhecem, as veias vão perdendo a elasticidade e o sistema de válvulas enfraquece, o que dificulta o retorno do sangue venoso para o coração e os pulmões e favorece o aparecimento das deformações características das varizes;
3.    Sexo – as mulheres estão mais sujeitas a desenvolver varizes. Alterações hormonais durante a gravidez, menstruação e menopausa, assim como o uso de pílulas anticoncepcionais e a reposição hormonal são fatores de risco, porque os hormônios femininos, estrogênio e progesterona, agem sobre a parede dos vasos, diminuem sua resistência e comprometem o funcionamento das válvulas que regulam a passagem do sangue.




Fatores de risco que podem ser mudados
1.    Sedentarismo – a atividade física é fundamental na prevenção e tratamento das varizes. Praticar exercícios estimula o sistema circulatório como um todo e facilita o retorno do sangue para o coração;
2.    Imobilidade – quando, por exigência profissional ou nas viagens longas, por exemplo, a pessoa é obrigada a permanecer sentada ou em pé por muito tempo, na mesma posição, qualquer exercício que facilite a contração e relaxamento da panturrilha ajuda a bombear o sangue de volta para o coração. Um exemplo é a flexão dorsal do pé, que consiste em erguer os dedos dos pés, aproximando-os o mais possível da face anterior do tornozelo. O outro é tentar sempre caminhar alguns passos para estimular a musculatura da batata das pernas. Meias elásticas, desde que possuam a compressão adequada para o tipo de perna, também favorecem o bombeamento de sangue para o coração e colaboram para sua circulação no interior das veias;
3.    Obesidade – o sobrepeso e as complicações associadas (pressão alta e diabetes são duas delas) representam sobrecarga para o sistema circulatório e aumentam o risco de desenvolver varizes, uma vez que a gordura acumulada no abdômen faz subir a pressão sobre os vasos e dificulta o fluxo normal do sangue, que vai criando bolsões nas veias das pernas. Alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos são medidas fundamentais para diminuir o risco que o excesso de peso representa;
4.    Tabagismo – as substâncias que entram na composição do cigarro deixam o sangue mais viscoso, o que dificulta a circulação e favorece seu acúmulo nas veias das pernas. Largar o cigarro é uma medida de que não só as pernas, mas todo o organismo se beneficia;
5.    Salto alto – é um tema controverso. Alguns estudiosos do assunto garantem que não oferecem risco maior. O fato é que o uso rotineiro de saltos muito altos e finos pode manter a musculatura da perna por muito tempo contraída, obstáculo que torna mais difícil o retorno do sangue venoso e permite que parte dele fique retida nas veias das pernas e dos pés.

Prevenir o aparecimento de varizes exige mudanças permanentes no estilo de vida. O fato de já ter retirado uma veia doente não impede que as lesões apareçam em outra veia dos membros inferiores. Portanto, a recomendação é não desconsiderar os primeiros sinais da doença.

Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925

Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia

quarta-feira, 1 de março de 2017

Sinusite


A sinusite pode ser definida como uma inflamação da camada mucosa que reveste a cavidade nasal e os seios paranasais (“seios da face”), podendo ou não ter uma infecção associada. Em muitas vezes há também rinite acompanhando o quadro.
A classificação da sinusite é feita de acordo com a duração e frequência do processo:
  • Sinusite aguda: dura até 4 semanas. Na grande maioria dos casos, melhora com o tratamento clínico adequado, raramente necessitando de outros tratamentos.
  • Sinusite subaguda: é a continuação de uma sinusite aguda em que não houve a cura.
    Os sintomas se mantém após a 4ª semana, podendo durar até 12 semanas, mesmo que tenham sido tratados na fase aguda.
  • Sinusite recorrente: definida por 3 ou mais episódios de sinusite aguda em 1 ano.
  • Sinusite crônica: caracteriza-se pela persistência dos sinais e sintomas por mais de 12 semanas (3 meses). As alterações inflamatórias tornam-se persistentes, e quanto mais tempo estiver presente o processo infeccioso, maiores as possibilidades de que se tornem irreversíveis.
  • Sinusite complicada: inflamação que se estende além dos seios paranasais, podendo ocorrer uma complicação importante, como meningite.
Clinicamente, a sinusite pode aparecer com alguns destes sintomas: dor de cabeça, dor ou pressão na face, obstrução ou congestão nasal, secreção nasal, diminuição do olfato, febre, mau hálito e tosse.
O diagnóstico normalmente é clínico, ou seja, pelos sintomas. A importância do raio-X simples é controverso e discutível no diagnóstico, podendo ser solicitado quando existe dúvida. A tomografia computadorizada está indicada nas sinusites crônicas, recorrentes ou complicadas, ou quando há indicação cirúrgica.
São sinais de alerta para as complicações da sinusite: piora importante dos sintomas após 72h de uso de antibiótico adequado, surgimento de inchaço palpebral, dor de cabeça intensa com irritabilidade e alterações visuais.
Os fatores que predispõem sinusite são: resfriado, gripe, rinite alérgica ou não-alérgica, alterações estruturais do nariz e aumento de adenóides.
As sinusites virais, que apresentam sintomas leves e melhora espontânea, não necessitam de tratamento medicamentoso. Já as bacterianas, precisam de antibióticos.
O uso de soro fisiológico nasal pode auxiliar no tratamento da sinusite aguda ou crônica.

Dra. Fernanda Formagio de Godoy Miguel
Pediatra pela SBP
CRM: 104.671

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL – CUIDADO E CIDADANIA



Nosso país envelhece a passos largos. Em 2011, a população idosa brasileira era de 20,5 milhões (10,8% da população total), e em 2020, as projeções indicam que a população idosa brasileira será de 30,9 milhões (14% da população total). Esse envelhecimento acelerado vem gerando demandas sociais que necessitam de respostas políticas adequadas do estado e da sociedade. Dentre os inúmeros desafios a serem enfrentados está a questão do cuidado. As políticas públicas de amparo aos idosos, consideram a família, o estado e a sociedade igualmente responsáveis pelo cuidado. Na prática, o mesmo tem sido visto como uma questão privada e não pública, cabendo, sobretudo, à família, materializada na figura da mulher, a tarefa de cuidar dos idosos.
Por motivos vários, entre eles, a redução de custo da assistência hospitalar e institucional aos idosos, considerados dependentes, a tendência, hoje, é a de indicar a permanência dos mesmos em suas casas sob os cuidados de sua família. No entanto, essa recomendação não leva em consideração as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, sobretudo em relação à configuração da estrutura familiar. Parte de um modelo estável de família nuclear e do pressuposto de que qualquer família pode contar com a disponibilidade de um de seus membros para assistir às necessidades dos idosos dependentes. Além da necessidade de se conhecer a estrutura familiar, delegar à família a função de cuidar de idosos requer estabelecer o tipo de cuidado a ser executado, o tempo necessário, as características da fragilidade do idoso, o tipo de apoio institucional e de acompanhamento profissional.
Outra questão relevante, um fenômeno, que pouco ou nunca aparece nas estatísticas oficiais, é número de idosos que cuidam de idosos, sem amparo dos filhos ou do Estado. Essa parcela da população, que precisa cuidar quando deveria ser cuidada, ainda não foi contabilizada pelo governo – cerca de 23,8% dos idosos vivem apenas com o cônjuge, mas não se sabe sua condição de saúde. A literatura médica, já começa a se preocupar com o problema, devido `as implicações sociais e médicas. 
Um cuidador familiar (pessoa responsável por cuidar do membro da família que perdeu sua independência funcional, em geral o pai ou avô idoso) tem até duas vezes mais chances de desenvolver doenças. O risco aumenta para quatro vezes o normal quando o cuidador é cônjuge, e a mortalidade é 63% maior nesse grupo, de acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde.
Além de enfrentarem mais dificuldades para cuidar, idosos que cuidam também tendem a descuidar da saúde. Embora tenham mais contato com profissionais de saúde por acompanharem o cônjuge nas consultas médicas, em casa tendem a descuidar de horários da própria medicação e de hábitos que promovem o bem-estar.
A família é a principal responsável pelo idoso, antes mesmo do Estado. Isso está no Estatuto do Idoso, e é preciso haver essa conscientização.
Em casos de famílias com dois ou mais filhos, um conselho seria que esses se dividam para que ninguém se sobrecarregue – tanto emocional quanto financeiramente. Nas situações em que há apenas um filho, ou o casal não teve filhos, o Estado tem a obrigação de ser mais atuante. Caso o filho não tenha condições de cuidar sozinho dos pais, deve procurar a ajuda do sistema público de saúde e até de voluntários, que são recrutados por igrejas. Se o casal não tem filhos ou parentes, pode igualmente solicitar essa ajuda e, em casos de omissão do poder público, pode interceder junto ao Ministério Público Estadual ou ao Conselho Estadual do Idoso (Cedi).
Hoje, as famílias, carecem de apoio institucional para oferecerem condições favoráveis para que os idosos tenham uma assistência à altura do merecido. E, provavelmente, essa situação tenderá a piorar enquanto o cuidado aos idosos não for considerado uma questão pública, de responsabilidade não apenas das famílias, mas também do Estado e da sociedade como um todo.
Assim sendo, tanto os cuidados (idosos) quanto os cuidadores (familiares) deverão ser objeto de políticas e programas de saúde pública em parceria com inúmeras outras políticas públicas. É fundamental que o Estado brasileiro garanta uma infraestrutura de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas, favorecendo a todo um conjunto de medidas que possam garantir o bem estar dos idosos e o exercício de sua cidadania.

Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia

Especialista em Cuidados Paliativos pela Associação Médica Brasileira

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

FEBRE AMARELA



Atualmente temos vivido uma preocupação nacional devido aos surtos ocorridos em várias cidades e estados do nosso país. Portanto, nada mais importante do que esclarecer algumas dúvidas sobre esta doença.
            A febre amarela é uma doença causada por um vírus: o Arbovírus, do gênero Flavivirus.
Este vírus é transmitido pela picada de dois tipos principais de mosquito:
- o Aedes aegypti (o mesmo que transmite os vírus da dengue, chikungunya e zika!) – responsável pela forma urbana da doença; ou seja, ocorre nas cidades e somente os humanos são os acometidos.
- o Haemagogus janthinomys - responsável pela forma silvestre da doença. Neste caso, como os mosquitos se localizam nas florestas, picam principalmente macacos, e os humanos  são picados acidentalmente.
            Após a picada do mosquito infectado pelo vírus, a doença pode demorar de 3 a 6 dias para mostrar os sintomas da infecção, que pode ser desde leve até grave, ou mesmo fatal.
            Nos casos leves pode haver febre, dor no corpo, dor de cabeça, náuseas e batimentos cardíacos lentos. Estes sintomas costumam durar cerca de 1 a 3 dias, desaparecendo sem tratamento.
            Já nos casos graves, após ocorrerem os sintomas descritos acima, ao invés de haver cura, há aumento da febre (crianças pequenas podem ter convulsão febril), diarréia, acometimento do fígado (causando vômito com sangue, sangramento nasal e pele amarelada ou icterícia), acometimento dos rins (diminuição da urina) e confusão mental ou até coma. Alguns casos chegam a óbito.
            O diagnóstico da doença é feito:
- pelos sintomas;
- pela localização geográfica: as regiões Norte e Centro-Oeste, os estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, e parte dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina são as principais;
- por exames: através de amostra de sangue do paciente, onde o vírus será isolado ou por sorologia.
            Não há tratamento específico contra o vírus; é feito tratamento dos sintomas e nos casos graves é necessário hospitalização.
Para a prevenção da doença, a vacinação é a medida mais importante, sendo feita somente conforme a recomendação do Ministério da saúde e da Sociedade Brasileira de Infectologia para moradores de zonas endêmicas ou de risco, e também em pessoas que viajam (fazer 10 dias antes) para os locais endêmicos:
- de 9 meses a 4 anos: 1 dose aos 9 meses, e 1 reforço aos 4 anos.
- para maiores de 5 anos: 1 dose e 1 reforço em 10 anos.
            Medidas para conter a multiplicação dos mosquitos são de extrema importância e estão ao alcance de todos nós, assim como o uso de repelentes.



Dra. Fernanda Formagio de Godoy Miguel
Pediatra pela SBP

CRM: 104.671

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Mais que envelhecer



Lidar com a inexorabilidade do processo de envelhecer exige uma habilidade na qual nos tornamos especialistas ao longo da história da humanidade: a adaptação. 

A ideia de envelhecer nos aflige hoje muito mais do que afligia nossos antepassados. No início do século passado, a expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.
A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Um mundo devastado devastado por guerras, enfermidades infecciosas, dores sem analgesia. Qual sentido haveria em pensar na velhice, já que probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como se hoje, a vida aos cem anos de idade, nos preocupasse, sabendo que poucos chegarão lá.

Quem está vivo hoje tem expectativa de passar dos 80 anos. E para tal, precisaremos de muita sabedoria para aceitarmos tantas mudanças. Mas envelhecer não pode ser encarado como sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.

A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é cultuado pelas sociedades ocidentais, direcionando aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltando-se a estética, costumes e padrões de comportamento característicos dessa faixa etária, causando o efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.

Considerar que a vida começa a declinar a partir do fim da juventude é torná-la uma experiência medíocre. Pensar após os 70 anos, que a melhor fase da vida foi dos 15 aos 25 anos, é não considerar nossa capacidade de editar nossas memórias, e remeter ao esquecimento as experiências traumáticas,  as inseguranças, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa época.
  
Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das diferenças, do contraditório e nos proporciona viver experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente. 

Aproveitemos mais um ano para viver! Feliz 2017!

Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925

Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

PRÉ-NATAL

           


A garantia de uma boa saúde para o bebê inicia-se com a realização de um pré-natal adequado. E da mesma forma, é também importante para a saúde materna.
            A assistência durante o pré-natal é direito de toda mulher, e desde o início deverá auxiliá-la em suas dúvidas e angústias, assim como a de seu parceiro.
Durante a gestação, ocorrem mudanças no organismo da mulher, o que pode levá-la a apresentar doenças como diabetes e hipertensão arterial (pressão alta). Estas doenças podem causar problemas para a mãe e para o feto.
            Exames são realizados para verificar se há infecções, como: hepatite, sífilis, rubéola, HIV, toxoplasmose e citomegalovírus. Estas infecções podem causar malformações fetais, e em algumas destas infecções, a mãe pode ser tratada a tempo de não afetar seu bebê.
            O acompanhamento da nutrição materna, prevenindo ou tratando anemia, desnutrição e obesidade, é de grande importância para mãe e filho, pois implica no crescimento adequado do feto, na prevenção de hipertensão materna (no caso da obesidade) e na prevenção de malformações.
            Algumas mulheres apresentam doenças prévias à gestação, como hipertireoidismo e lúpus, e que podem ser risco para abortamentos ou outras complicações.
            A carteira de vacinação da futura mamãe deve ser checada e as vacinas atualizadas se necessário (antitetânica por exemplo), e de acordo com a orientação médica.
            A ultrassonografia também auxilia no acompanhamento do crescimento fetal e no diagnóstico de algumas síndromes e malformações.
            A orientação no preparo das mamas para o aleitamento materno também faz parte da orientação pré-natal, garantindo o seu sucesso após o parto.

Dra. Fernanda Formagio de Godoy Miguel
Pediatra pela SBP

CRM: 104.671

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Dezembro Laranja – Prevenção do Câncer de Pele


No dia 1o de dezembro começou oficialmente o Dezembro Laranja, a campanha da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) pela prevenção ao câncer da pele. Este é o terceiro ano consecutivo dessa iniciativa que visa passar uma mensagem importante: a de que o câncer da pele pode ser prevenido

Mais de 4 milhões de brasileiros já tiveram câncer da pele, revela pesquisa inédita
Em 2016, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), junto com o DataFolha, divulga pesquisa inédita que imprime a radiografia do hábito de exposição solar do brasileiro. A pesquisa traz dados alarmantes:
·         106 milhões de brasileiros se expõem ao sol de forma intencional nas atividades de lazer – 70% da população acima de 16 anos
·         63% dos brasileiros não usam protetor solar no seu dia a dia = + 95 milhões de brasileiros não se protegem de forma regular
·         6  milhões de brasileiros adultos (mais de 4% da população) não se protegem de forma alguma quando estão na praia, piscina,  cachoeira, banho de rio ou lago
·          Dos entrevistados que têm filhos até 15 anos, 20% dessas crianças e adolescentes não se protegem de forma alguma nas atividades de lazer. Se a análise incluir as classes D/E, esse percentual sobe para 35%
De 23 a 27 de agosto o Datafolha avaliou os hábitos de fotoproteção de 2069 lares brasileiros, em 130 municípios. Segundo o coordenador da Pesquisa e do Consenso de Fotoproteção da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Sérgio Schalka, “a pesquisa é importante para que possamos tomar iniciativas mais sólidas de prevenção ao câncer da pele. Ainda temos grande parcela da população que não se previne adequadamente, precisamos reverter este quadro”, afirma.
Dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) estimam que, em 2016, serão contabilizados cerca de 176 mil novos casos de câncer da pele não melanoma no Brasil. Os principais tipos que ocorrerão no país serão, por ordem de incidência, os de pele não melanoma (para ambos os sexos), o de próstata e o de mama.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, no ano 2030, existirá 27 milhões de casos novos de câncer, 17 milhões de mortes pela doença e 75 milhões de pessoas vivendo com câncer. O maior efeito desse aumento incidirá em países em desenvolvimento. No Brasil, o câncer já é a segunda causa de morte por doenças, atrás apenas das do aparelho circulatório.
A doença é provocada pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. Estas células se dispõem formando camadas e, de acordo com a camada afetada, definimos os diferentes tipos de câncer. Os mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares. Mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer da pele.
A radiação ultravioleta é a principal responsável pelo desenvolvimento de tumores cutâneos, e a maioria dos casos está associada á exposição excessiva ao sol ou ao uso de câmaras de bronzeamento.
Apesar da incidência elevada, o câncer da pele não-melanoma tem baixa letalidade e pode ser curado com facilidade se detectado precocemente. Por isso, examine regularmente sua pele e procure imediatamente um dermatologista caso perceba pintas ou sinais suspeitos.

Sinais e sintomas

O câncer da pele pode se assemelhar a pintas, eczemas ou outras lesões benignas. Assim, conhecer bem a pele e saber em quais regiões existem pintas faz toda a diferença na hora de detectar qualquer irregularidade. Somente um exame clínico feito por um médico especializado ou uma biópsia podem diagnosticar o câncer da pele, mas é importante estar sempre atento aos seguintes sintomas:
·         Uma lesão na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, avermelhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente;
·         Uma pinta preta ou castanha que muda sua cor, textura, torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho;
·         Uma mancha ou ferida que não cicatriza, que continua a crescer apresentando coceira, crostas, erosões ou sangramento.

Aqui você encontrará a metodologia indicada por dermatologistas para reconhecer as manifestações dos três tipos de câncer da pele: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma. Para auxiliar na identificação dos sinais perigosos, basta seguir a Regra do ABCD. Mas, em caso de sinais suspeitos, procure sempre um dermatologista.

·         Assimetria - A forma de metade da mancha não coincide com a outra metade.
·         Borda - As bordas são irregulares, entalhadas ou dentadas.
·         Cor - É muitas vezes desigual. Tons de preto, marrom e canela podem estar presentes. Áreas brancas, cinza, vermelha ou azul também podem ser vistas.
·         Diâmetro - O diâmetro maior que 6 mm.
·         Evolução - A pinta vem mudando de tamanho, forma, cor, aparência, ou se desenvolve em uma área de pele previamente normal. 

Tipos de câncer da pele

Carcinoma basocelular (CBC)
É o mais prevalente dentre todos os tipos de câncer. O CBC surge nas células basais, que se encontram na camada mais profunda da epiderme (a camada superior da pele). Tem baixa letalidade, e pode ser curado em caso de detecção precoce.
Os CBCs surgem mais frequentemente em regiões mais expostas ao sol, como face,orelhas, pescoço, couro cabeludo,  ombros e costas. Podem se desenvolver também nas áreas não expostas, ainda que mais raramente. Em alguns casos, além da exposição ao sol, há outros fatores que desencadeiam o surgimento da doença.
Certas manifestações do CBC podem se assemelhar a lesões não cancerígenas, como eczema ou psoríase. Somente um médico especializado pode diagnosticar e prescrever a opção de tratamento mais indicada.
O tipo mais encontrado é o nódulo-ulcerativo, que se traduz como uma pápula vermelha, brilhosa, com uma crosta central, que pode sangrar com facilidade.
Carcinoma espinocelular (CEC)
É o segundo mais prevalente dentre todos os tipos de câncer. Manifesta-se nas células escamosas, que constituem a maior parte das camadas superiores da pele. Pode se desenvolver em todas as partes do corpo, embora seja mais comum nas áreas expostas ao sol, como orelhas, rosto, couro cabeludo, pescoço etc. A pele nessas regiões normalmente apresenta sinais de dano solar, como enrugamento, mudanças na pigmentação e perda de elasticidade.
O CEC é duas vezes mais frequente em homens do que em mulheres. Assim como outros tipos de câncer da pele, a exposição excessiva ao sol é a principal causa do CEC, mas não a única. Alguns casos da doença estão associados a feridas crônicas e cicatrizes na pele, uso de drogas antirrejeição de órgãos transplantados e exposição a certos agentes químicos ou à radiação.
Normalmente, os CEC têm coloração avermelhada, e apresentam-se na forma de machucados ou feridas espessos e descamativos, que não cicatrizam e sangram ocasionalmente. Podem ter aparência similar a das verrugas também. Somente um médico especializado pode fazer o diagnóstico correto.
Melanoma
Tipo menos frequente dentre todos os cânceres da pele, com 6.130 casos previstos no Brasil em 2013 segundo o INCA, o melanoma tem o pior prognóstico e o mais alto índice de mortalidade. Embora o diagnóstico de melanoma normalmente traga medo e apreensão aos pacientes, as chances de cura são de mais de 90%, quando há deteção precoce da doença.
O melanoma, em geral, tem a aparência de uma pinta ou de um sinal na pele, em tons acastanhados ou enegrecidos. Porém, quando se trata de melanoma, a “pinta” ou o “sinal” em geral mudam de cor, de formato ou de tamanho, e podem  causar sangramento. Por isso, é importante observar a própria pele constantemente, e procurar imediatamente um dermatologista caso detecte qualquer lesão suspeita.
Alias, mesmo sem nenhum sinal suspeito, uma visita ao dermatologista ao menos uma vez por ano deve ser feita.  essas lesões podem surgir em áreas difíceis de serem visualizadas pelo paciente. Além disso, uma lesão considerada “normal” pra você, pode ser suspeita para o médico.
Pessoas de pele clara, com fototipos I e II, têm mais risco de desenvolverem a doença, que também pode manifestar-se em indivíduos negros ou de fototipos mais altos, ainda que mais raramente. O melanoma tem origem nos melanócitos, as células que produzem melanina, o pigmento que dá cor à pele. Normalmente, surge nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar.
Em estágios iniciais, o melanoma se desenvolve apenas na camada mais superficial da pele, o que facilita a remoção cirúrgica e a cura do tumor. Nos estágios mais avançados, a lesão é mais profunda e espessa, o que aumenta a chance de metástase para outros órgãos e diminui as possibilidades de cura. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental. Casos de melanoma metastático, em geral, apresentam pior prognóstico e dispõem de um número reduzido de opções terapêuticas.
A hereditariedade desempenha um papel central no desenvolvimento do melanoma. Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com a doença devem se submeter a exames preventivos regularmente. O risco aumenta quando há casos registrados em familiares de primeiro grau.

Tratamento

Todos os casos de câncer de pele devem ser diagnosticados e tratados precocemente, inclusive os de baixa letalidade, que podem provocar lesões mutilantes ou desfigurantes em áreas expostas do corpo, causando sofrimento aos pacientes.
Felizmente, há diversas opções terapêuticas para o tratamento do câncer da pele não-melanoma. A modalidade escolhida varia conforme o tipo e a extensão da doença, mas, normalmente, a maior parte dos carcinomas basocelulares ou espinocelulares pode ser tratada com procedimentos simples.

Como prevenir o câncer da pele

Evitar a exposição excessiva ao sol e proteger a pele dos efeitos da radiação UV são as melhores estratégias para prevenir o melanoma e outros tipos de tumores cutâneos.
Como a incidência dos raios ultravioletas está cada vez mais agressiva em todo o planeta, as pessoas de todos os fototipos devem estar atentas e se protegerem quando expostas ao sol. Os grupos de maior risco são os do fototipo I e II, ou seja: pele clara, sardas, cabelos claros ou ruivos e olhos claros. Além destes, os que possuem antecedentes familiares com histórico da doença, queimaduras solares, incapacidade para bronzear e pintas também devem ter atenção e cuidados redobrados.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia recomenda que as seguintes medidas de proteção sejam adotadas:
·         Usar chapéus, camisetas e protetores solares.
·         Evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre 10 e 16h (horário de verão).
·         Na praia ou na piscina, usar barracas feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As barracas de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material.
·         Usar filtros solares diariamente, e não somente em horários de lazer ou diversão. Utilizar um produto que proteja contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo.  Reaplicar o produto a cada duas horas ou menos, nas atividades de lazer ao ar livre. Ao utilizar o produto no dia-a-dia, aplicar uma boa quantidade pela manhã e reaplicar antes de sair para o almoço.
·         Observar regularmente a própria pele, à procura de pintas ou manchas suspeitas.
·         Consultar um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo.
·         Manter bebês e crianças protegidos do sol. Filtros solares podem ser usados a partir dos seis meses.
Fotoproteção
A exposição à radiação ultravioleta (UV) tem efeito cumulativo e penetra profundamente na pele, sendo capaz de provocar diversas alterações, como o bronzeamento e o surgimento de pintas, sardas, manchas, rugas e outros problemas. A exposição solar em excesso também pode causar tumores benignos (não cancerosos) ou cancerosos, como o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma.
Na verdade, a maioria dos cânceres da pele está relacionada à exposição ao sol, por isso todo cuidado é pouco.  Ao sair ao ar livre procure ficar na sombra, principalmente no horário entre as 10h e 16h, quando a radiação UVB é mais intensa.  Use sempre protetor solar com fator de proteção solar (FPS) de 30 ou maior. Cubra as áreas expostas com roupas apropriadas, como uma camisa de manga comprida, calças e um chapéu de abas largas. Óculos escuros também complementam as estratégias de proteção.
Sobre os protetores solares (fotoprotetores)
Os fotoprotetores, também conhecidos como protetores solares ou filtros solares, são produtos capazes de prevenir os males provocados pela exposição solar, como o câncer da pele, o envelhecimento precoce e a queimadura solar.
O fotoprotetor ideal deve ter amplo espectro, ou seja, ter boa absorção dos raios UVA e UVB, não ser irritante, ter certa resistência à água, e não manchar a roupa. Eles podem ser físicos ou inorgânicos e/ou químicos ou orgânicos. Os protetores físicos, à base de dióxido de titânio e óxido de zinco, se depositam na camada mais superficial da pele, refletindo as radiações incidentes. Eles não eram bem aceitos antigamente pelo fato de deixarem a pele com uma tonalidade esbranquiçada, mas Isso tem sido minimizado pela coloração de base de alguns produtos. Já os filtros químicos funcionam como uma espécie de “esponja” dos raios ultravioletas, transformando-os em calor.
Radiação UVA e UVB
Um fotoprotetor eficiente deve oferecer boa proteção contra a radiação UVA e UVB. A radiação UVA tem comprimento de onda mais longo e sua intensidade pouco varia ao longo do dia. Ela penetra profundamente na pele, e é a principal responsável pelo fotoenvelhecimento e pelo câncer da pele. Já a radiação UVB tem comprimento de onda mais curto e é mais intensa entre as 10h e 16h, sendo a principal responsável pelas queimaduras solares e pela vermelhidão na pele.
Um fotoprotetor com fator de proteção solar (FPS) 2 até 15 possui baixa proteção contra a radiação UVB;  o FPS 15-30 oferece média proteção contra UVB, enquanto os protetores com FPS 30-50, oferecem alta proteção UVB e o FPS maior que 50, altíssima proteção UVB. Pessoas de pele clara, que se queimam sempre e nunca se bronzeiam, geralmente aqueles com cabelos ruivos ou loiros e olhos claros, devem usar protetores solares com FPS 15, no mínimo.
Já em relação aos raios UVA, não há consenso quanto à metodologia do fator de proteção. Ele pode ser mensurado em estrelas, de 0 a 4, onde 0 é nenhuma proteção e 4 é altíssima proteção UVA, ou em números: < 2, não há proteção UVA; 2-4 baixa proteção; 4-8 média proteção, 8-12 alta proteção e > 12 altíssima proteção UVA.  Procure por esta classificação ou por valor de PPD nos rótulos dos produtos.

 Como escolher um fotoprotetor?
Em primeiro lugar, devemos verificar o FPS, quanto é proteção quanto aos raios UVA, e também se o produto é resistente ou não a água. A nova legislação de filtros solares exige que tudo que o produto anunciar no rótulo, deve ter testes comprovando a eficácia.  Outra mudança é que o valor do PPD que mede a proteção UVA deve ser sempre no mínimo metade do valor do Filtro solar. Isso porque se sabe que os raios UVA também contribuem para o risco de câncer de pele.
O “veículo” do produto– gel, creme, loção, spray, bastão – também tem de ser considerado, pois isso ajuda na prevenção de acne e oleosidade comuns quando se usa produtos inadequados para cada tipo de pele. Pacientes com pele com tendência a acne devem optar por veículos livres de óleo ou gel creme. Já aqueles pacientes que fazem muita atividade física e que suam bastante, devem evitar os géis, pois saem facilmente.
Como aplicar o fotoprotetor?
O produto deve ser aplicado ainda em casa, e reaplicado ao longo do dia a cada 2 horas, se houver muita transpiração ou exposição solar prolongada. É necessária aplicar uma boa quantidade do produto, equivalente a uma colher de chá rasa para o rosto e três colheres de sopa para o corpo, uniformemente, de modo a não deixar nenhuma área desprotegida. O filtro solar deve ser usado todos os dias, mesmo quando o tempo estiver frio ou nublado, pois a radiação UV atravessa as nuvens.
É importante lembrar que usar apenas filtro solar não basta. É preciso complementar as estratégias de fotoproteção com outros mecanismos, como roupas, chapéus e óculos apropriados. Também é importante consultar um dermatologista regularmente para uma avaliação cuidadosa da pele, com a indicação do produto mais adequado.

Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia