quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO POPULACIONAL – CUIDADO E CIDADANIA



Nosso país envelhece a passos largos. Em 2011, a população idosa brasileira era de 20,5 milhões (10,8% da população total), e em 2020, as projeções indicam que a população idosa brasileira será de 30,9 milhões (14% da população total). Esse envelhecimento acelerado vem gerando demandas sociais que necessitam de respostas políticas adequadas do estado e da sociedade. Dentre os inúmeros desafios a serem enfrentados está a questão do cuidado. As políticas públicas de amparo aos idosos, consideram a família, o estado e a sociedade igualmente responsáveis pelo cuidado. Na prática, o mesmo tem sido visto como uma questão privada e não pública, cabendo, sobretudo, à família, materializada na figura da mulher, a tarefa de cuidar dos idosos.
Por motivos vários, entre eles, a redução de custo da assistência hospitalar e institucional aos idosos, considerados dependentes, a tendência, hoje, é a de indicar a permanência dos mesmos em suas casas sob os cuidados de sua família. No entanto, essa recomendação não leva em consideração as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, sobretudo em relação à configuração da estrutura familiar. Parte de um modelo estável de família nuclear e do pressuposto de que qualquer família pode contar com a disponibilidade de um de seus membros para assistir às necessidades dos idosos dependentes. Além da necessidade de se conhecer a estrutura familiar, delegar à família a função de cuidar de idosos requer estabelecer o tipo de cuidado a ser executado, o tempo necessário, as características da fragilidade do idoso, o tipo de apoio institucional e de acompanhamento profissional.
Outra questão relevante, um fenômeno, que pouco ou nunca aparece nas estatísticas oficiais, é número de idosos que cuidam de idosos, sem amparo dos filhos ou do Estado. Essa parcela da população, que precisa cuidar quando deveria ser cuidada, ainda não foi contabilizada pelo governo – cerca de 23,8% dos idosos vivem apenas com o cônjuge, mas não se sabe sua condição de saúde. A literatura médica, já começa a se preocupar com o problema, devido `as implicações sociais e médicas. 
Um cuidador familiar (pessoa responsável por cuidar do membro da família que perdeu sua independência funcional, em geral o pai ou avô idoso) tem até duas vezes mais chances de desenvolver doenças. O risco aumenta para quatro vezes o normal quando o cuidador é cônjuge, e a mortalidade é 63% maior nesse grupo, de acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde.
Além de enfrentarem mais dificuldades para cuidar, idosos que cuidam também tendem a descuidar da saúde. Embora tenham mais contato com profissionais de saúde por acompanharem o cônjuge nas consultas médicas, em casa tendem a descuidar de horários da própria medicação e de hábitos que promovem o bem-estar.
A família é a principal responsável pelo idoso, antes mesmo do Estado. Isso está no Estatuto do Idoso, e é preciso haver essa conscientização.
Em casos de famílias com dois ou mais filhos, um conselho seria que esses se dividam para que ninguém se sobrecarregue – tanto emocional quanto financeiramente. Nas situações em que há apenas um filho, ou o casal não teve filhos, o Estado tem a obrigação de ser mais atuante. Caso o filho não tenha condições de cuidar sozinho dos pais, deve procurar a ajuda do sistema público de saúde e até de voluntários, que são recrutados por igrejas. Se o casal não tem filhos ou parentes, pode igualmente solicitar essa ajuda e, em casos de omissão do poder público, pode interceder junto ao Ministério Público Estadual ou ao Conselho Estadual do Idoso (Cedi).
Hoje, as famílias, carecem de apoio institucional para oferecerem condições favoráveis para que os idosos tenham uma assistência à altura do merecido. E, provavelmente, essa situação tenderá a piorar enquanto o cuidado aos idosos não for considerado uma questão pública, de responsabilidade não apenas das famílias, mas também do Estado e da sociedade como um todo.
Assim sendo, tanto os cuidados (idosos) quanto os cuidadores (familiares) deverão ser objeto de políticas e programas de saúde pública em parceria com inúmeras outras políticas públicas. É fundamental que o Estado brasileiro garanta uma infraestrutura de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas, favorecendo a todo um conjunto de medidas que possam garantir o bem estar dos idosos e o exercício de sua cidadania.

Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia

Especialista em Cuidados Paliativos pela Associação Médica Brasileira

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