Nosso país envelhece a passos largos. Em 2011, a população
idosa brasileira era de 20,5 milhões (10,8% da população total), e em 2020, as
projeções indicam que a população idosa brasileira será de 30,9 milhões (14% da
população total). Esse envelhecimento acelerado vem gerando demandas sociais
que necessitam de respostas políticas adequadas do estado e da sociedade.
Dentre os inúmeros desafios a serem enfrentados está a questão do cuidado. As
políticas públicas de amparo aos idosos, consideram a família, o estado e a
sociedade igualmente responsáveis pelo cuidado. Na prática, o mesmo tem sido
visto como uma questão privada e não pública, cabendo, sobretudo, à família,
materializada na figura da mulher, a tarefa de cuidar dos idosos.
Por motivos vários, entre eles, a redução de custo da assistência
hospitalar e institucional aos idosos, considerados dependentes, a tendência,
hoje, é a de indicar a permanência dos mesmos em suas casas sob os cuidados de
sua família. No entanto, essa recomendação não leva em consideração as mudanças
ocorridas na sociedade brasileira, sobretudo em relação à configuração da
estrutura familiar. Parte de um modelo estável de família nuclear e do
pressuposto de que qualquer família pode contar com a disponibilidade de um de
seus membros para assistir às necessidades dos idosos dependentes. Além da
necessidade de se conhecer a estrutura familiar, delegar à família a função de
cuidar de idosos requer estabelecer o tipo de cuidado a ser executado, o tempo
necessário, as características da fragilidade do idoso, o tipo de apoio
institucional e de acompanhamento profissional.
Outra questão
relevante, um fenômeno, que pouco ou nunca aparece nas estatísticas oficiais, é
número de idosos que cuidam de idosos, sem amparo dos filhos ou do Estado. Essa
parcela da população, que precisa cuidar quando deveria ser cuidada, ainda não
foi contabilizada pelo governo – cerca de 23,8% dos idosos vivem apenas com o
cônjuge, mas não se sabe sua condição de saúde. A literatura médica, já começa
a se preocupar com o problema, devido `as implicações sociais
e médicas.
Um cuidador familiar (pessoa responsável por cuidar do
membro da família que perdeu sua independência funcional, em geral o pai ou avô
idoso) tem até duas vezes mais chances de desenvolver doenças. O risco aumenta
para quatro vezes o normal quando o cuidador é cônjuge, e a mortalidade é 63%
maior nesse grupo, de acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde.
Além de enfrentarem mais dificuldades para
cuidar, idosos que cuidam também tendem a descuidar da saúde. Embora tenham
mais contato com profissionais de saúde por acompanharem o cônjuge nas
consultas médicas, em casa tendem a descuidar de horários da própria medicação
e de hábitos que promovem o bem-estar.
A família é a principal responsável pelo idoso,
antes mesmo do Estado. Isso está no Estatuto do Idoso, e é preciso haver essa
conscientização.
Em casos de famílias com dois ou mais filhos, um
conselho seria que esses se dividam para que ninguém se sobrecarregue – tanto
emocional quanto financeiramente. Nas situações em que há apenas um filho, ou o
casal não teve filhos, o Estado tem a obrigação de ser mais atuante. Caso o
filho não tenha condições de cuidar sozinho dos pais, deve procurar a ajuda do
sistema público de saúde e até de voluntários, que são recrutados por igrejas.
Se o casal não tem filhos ou parentes, pode igualmente solicitar essa ajuda e,
em casos de omissão do poder público, pode interceder junto ao Ministério
Público Estadual ou ao Conselho Estadual do Idoso (Cedi).
Hoje, as famílias, carecem de apoio institucional para oferecerem
condições favoráveis para que os idosos tenham uma assistência à altura do
merecido. E, provavelmente, essa situação tenderá a piorar enquanto o cuidado
aos idosos não for considerado uma questão pública, de responsabilidade não
apenas das famílias, mas também do Estado e da sociedade como um todo.
Assim sendo, tanto os cuidados (idosos) quanto os cuidadores (familiares)
deverão ser objeto de políticas e programas de saúde pública em parceria com
inúmeras outras políticas públicas. É fundamental que o Estado brasileiro
garanta uma infraestrutura de serviços em vários âmbitos de atuação das
políticas públicas, favorecendo a todo um conjunto de medidas que possam
garantir o bem estar dos idosos e o exercício de sua cidadania.
Dra
Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade
Brasileira de Geriatria de Gerontologia
Especialista em
Cuidados Paliativos pela Associação Médica Brasileira
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