A Fibromialgia é uma das doenças
reumatológicas mais frequentes. Caracterizada por dor muscular generalizada no
corpo acompanhada de sintomas de fadiga, e alterações de sono, memória e humor.
Geralmente
o primeiro indício de fibromialgia é uma dor localizada que persiste e,
com o tempo, evolui e se alastra para tornar-se difusa, assemelhando-se à dor
que toma o corpo todo após uma gripe forte. Normalmente a dor surge sem motivo,
mas às vezes pode ser desengatilhada por traumas psicológicos, físicos, como
uma lesão provocada por um acidente de carro, ou infecções.
Até
os anos 1990, usava-se um mapa para testar a sensibilidade do paciente. Os 18
pontos distribuídos pelo corpo eram os mais citados por pacientes como locais
doloridos. São simétricos bilateralmente, e a maioria se concentra acima da
cintura. Alguns deles, em especial na nuca, nas escápulas e na parte externa
dos cotovelos, ao serem pressionados provocavam gritos de dor.
Ainda
assim, a dor da fibromialgia é diferente das dores agudas, como as causadas por
um corte ou uma porta que se fecha violentamente sobre um dedo. Na
fibromialgia, a pessoa vai se adaptando e passa a conviver com ela no dia a
dia, o que motiva a descrença por parte de quem convive com ele.
Para
o diagnóstico de fibromialgia é necessário haver dor em todo o corpo por mais
de três meses, na maioria dos dias ao longo desse período. Os pontos de dor hoje
em dia, ajudam, mas não são definidores do diagnóstico. É necessário haver um
conjunto de outros sintomas que englobam cansaço extremo, alteração do sono, da
concentração e problemas de memória.
Entre
esses sintomas, é marcante o papel da fadiga para caracterização da doença. O
processo de diagnóstico inclui um questionário que visa a avaliar o impacto do
cansaço na rotina do paciente. O indivíduo classifica de 0 a 10 o nível de
dificuldade que enfrentou para realizar determinadas tarefas. E pelo grau de
exigência das tarefas, podemos ter uma ideia do quão intensa pode ser a falta
de energia.
A
doença costuma surgir em mulheres entre 30 e 55 anos, embora haja casos de
pessoas mais velhas, adolescentes e até crianças acometidas, compondo no Brasil
um contingente de aproximadamente 5 milhões de pessoas (cerca de 2% a 3%
da população, percentual próximo ao que se estima no mundo).
FARDO FEMININO
Existem dez vezes mais
mulheres atingidas que homens. Segundo o National Institute of Arthritis and
Musculoskeletal and Skin Diseases, entre 80% e 90% das pessoas com
fibromialgia são mulheres.
A ligação entre
fibromialgia e o sexo feminino pode estar na serotonina, neurotransmissor que
influencia o sono, a produção de hormônios, o ritmo cardíaco e outras funções
fisiológicas importantes. As mulheres produzem menos serotonina, e por isso são
mais propensas a problemas como depressão, enxaqueca e transtornos de humor,
principalmente no período de TPM. Como o neurotransmissor também participa do
processamento da dor, talvez esse seja a explicação para o número muito
maior de pacientes mulheres.
Além da forte relação
com o sexo feminino, a doença tem laços estreitos com a depressão. Cerca de 50%
dos fibromiálgicos apresentam também esse transtorno grave, com um quadro
agravando o outro: a dor e o descrédito provocam reclusão, piorando a
depressão, que por sua vez intensifica a dor – de forma real, e não
psicológica.
TRATAMENTO
Como a dor da
fibromialgia não tem uma origem definida, analgésicos e anti-inflamatórios não
ajudam. Os medicamentos que surtem algum efeito são os da classe dos
antidepressivos e neuromoduladores. Porém, alguns pacientes podem encarar a
prescrição com desconfiança, devido à imagem negativa que as doenças
psiquiátricas têm em nossa sociedade. Aqueles que tiveram de encarar
incredulidade até chegar ao diagnóstico podem até expressar revolta,
interpretando que a sombra da “dor psicológica” está voltando e que estão sendo
tratados de algum transtorno psiquiátrico. No caso da fibromialgia, entretanto,
tais remédios são usados simplesmente para aumentar a quantidade de
neurotransmissores que diminuem a dor.
Atualmente, a
palavra-chave do tratamento para fibromialgia é atividade física. E muitas
vezes inclui-se alguma medicação para permitir a prática de exercícios, por
exemplo, para melhorar padrão de sono e ser reparador.
A fibromialgia não é
considerada uma doença curável. Existem casos em que os sintomas diminuem
consideravelmente, chegando a quase desaparecer, mas há outros em que será
necessário fazer controle por toda a vida. Entender esse fato é fundamental
para levar o tratamento da melhor forma possível.
Assim como a
retroalimentação que ocorre fibromialgia e depressão, os sintomas da doença
trazem uma série de problemas que se acumulam e se reforçam. A dor altera o
humor, que afeta o rendimento profissional e as relações sociais, o que aumenta
o estresse, que é um dos gatilhos da dor e assim estende-se ao infinito.
Pacientes não precisam
se preocupar com danos graves, como deformações ou paralisação de membros.
Mantido o tratamento, a perspectiva é que as dores regridam ao custo de uma
rotina que é recomendada para a saúde de qualquer ser humano: atividade física
regular.
Dra
Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade
Brasileira de Geriatria de Gerontologia
Especialista em
Cuidados Paliativos pela Associação Médica Brasileira