Idosos, hipertensos, diabéticos, obesos, fumantes e sedentários precisam redobrar os cuidados no inverno. Mesmo quem não pertence a esses grupos de risco deve evitar a exposição prolongada ao frio intenso e o choque térmico causado pelas quedas bruscas de temperatura.
A literatura médica já nos mostrou em estudos de diversos países, que durante o inverno, o número de infartos cresce, em média, 30% e os de AVC, 20%. A estimativa é que a cada dez graus de queda na temperatura haja um aumento de 7% no índice de infartos, especialmente quando os termômetros atingem marcas inferiores a 14ºC.
Isso ocorre devido ao esforço que o organismo faz para manter o calor interno do corpo ao redor de 36,1ºC. Assim, quando as terminações nervosas da pele se ressentem com o frio, estimulam a produção de um tipo de catecolamina, substância que, entre outras funções, acelera o metabolismo para evitar a perda de calor, como forma de proteger o funcionamento de órgãos vitais internos. Esse mecanismo faz com que as paredes dos vasos sanguíneos que irrigam a pele se contraiam (prova disso é que mãos, pés, nariz e orelhas esfriam), e o coração precisa fazer mais força para bombear o sangue. Além disso, como sentem menos sede no frio, as pessoas acabam ingerindo menos líquido e desidratam. Sangue mais denso e viscoso coagula mais facilmente, o que colabora também para o aumento da pressão sanguínea.
Além disso diante de temperaturas baixas, o aumento da pressão sanguínea sobre a parede dos vasos que estão com o calibre reduzido, além de sobrecarregar o coração, facilita o desprendimento de placas de gordura localizadas no interior das artérias, que podem bloquear o fluxo do sangue para o coração e para o cérebro.
Embora dias frios possam, muitas vezes, servir de pretexto para suspender a atividade física, aumentar o consumo de alimentos calóricos e descuidar da hidratação, o fato é que faz bem para a saúde do coração e a integridade do cérebro manter um programa regular de exercícios físicos. Do mesmo modo, uma alimentação equilibrada, com menos gordura saturada, açúcar e sal ajuda a controlar os níveis de colesterol no sangue, a glicemia e a pressão arterial, apesar da vasoconstrição periférica.
O bom senso manda evitar exageros ao exercitar-se, quando a temperatura está lá embaixo, pois o exercício físico exige maior aporte de oxigênio nos músculos esqueléticos, o que pode representar maior esforço para o coração. Sendo assim, é de grande importância o aquecimento, que deve ser mais lento e prolongado, assim como a escolha da roupa certa para conservar o calor que o próprio corpo produz.
Está claro que a prevenção dos transtornos vasculares no inverno está diretamente associada ao controle de fatores de risco durante o ano todo. Mas outros pequenos cuidados podem preparar nosso corpo para enfrentar as temperaturas baixas do inverno.
Começando com a vacinação contra a gripe. Idosos e portadores doenças crônicas devem tomar a vacina contra gripe todos os anos, antes do início do outono para estarem protegidos no inverno, quando são mais comuns os casos de gripes e outras doenças respiratórias. Agravadas pela poluição dos grandes centros urbanos, essas doenças provocam inflamação dos vasos sanguíneos. Como já vimos, vasos mais estreitos facilitam o rompimento de placas de gordura, que podem bloquear o fluxo de sangue pelas artérias e danificar o músculo cardíaco.
Faça frio ou calor, ao primeiro sinal de infarto (dor no peito que irradia para os braços, falta de ar, sudorese abundante são alguns deles) ou de AVC (dormência súbita na face ou nos membros de um lado do corpo, comprometimento da fala e da visão, tontura), a pessoa deve procurar imediatamente assistência médica. Quanto mais precoce for introduzido o tratamento, menores serão os danos provocados por essas doenças e melhor será o processo de recuperação.
Dra Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade Brasileira de Geriatria de Gerontologia