Lidar
com a inexorabilidade do processo de envelhecer exige uma habilidade na qual
nos tornamos especialistas ao longo da história da humanidade: a
adaptação.
A ideia de envelhecer nos aflige hoje muito
mais do que afligia nossos antepassados. No início do século passado, a
expectativa de vida ao nascer nos países da Europa mais desenvolvida não
passava dos 40 anos.
A mortalidade infantil era altíssima;
epidemias de varíola, malária, febre amarela, gripe e tuberculose dizimavam
populações inteiras. Um mundo devastado devastado por guerras, enfermidades
infecciosas, dores sem analgesia. Qual sentido haveria em pensar na velhice, já
que probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como se hoje, a vida aos
cem anos de idade, nos preocupasse, sabendo que poucos chegarão lá.
Quem está vivo hoje tem expectativa de passar
dos 80 anos. E para tal, precisaremos de muita sabedoria para aceitarmos tantas
mudanças. Mas envelhecer não pode ser encarado como sinônimo de decadência
física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com parcimônia,
exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.
A exaltação da juventude como o período áureo
da existência humana é cultuado pelas sociedades ocidentais, direcionando aos
jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltando-se a estética, costumes e
padrões de comportamento característicos dessa faixa etária, causando o efeito perverso
de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.
Considerar que a vida começa a declinar a
partir do fim da juventude é torná-la uma experiência medíocre. Pensar após os
70 anos, que a melhor fase da vida foi dos 15 aos 25 anos, é não considerar
nossa capacidade de editar nossas memórias, e remeter ao esquecimento as
experiências traumáticas, as inseguranças,
desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos nessa
época.
Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele
que nos traz a aceitação das diferenças, do contraditório e nos proporciona
viver experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.
Aproveitemos mais um ano para viver! Feliz
2017!
Dra
Flávia Renata Topciu – CRM 121.925
Geriatra pela Sociedade
Brasileira de Geriatria de Gerontologia